A descoberta de um simples osso do dedo mindinho em 2010 mudou tudo o que sabíamos sobre os ancestrais humanos. Agora, pela primeira vez, conseguimos visualizar o rosto de uma Denisovana, e os resultados são surpreendentes.
Uma Imagem Completa a Partir de Fragmentos
Com apenas um fragmento de osso encontrado em uma caverna da Sibéria, pesquisadores conseguiram reconstruir a aparência de uma adolescente que viveu há cerca de 75 mil anos. Ela fazia parte de um grupo de humanos arcaicos conhecido como Denisovanos.
Utilizando padrões de metilação do DNA, cientistas conseguiram prever como a química dos genes afetava o desenvolvimento físico dessa antiga espécie.

E foi justamente essa técnica que permitiu um vislumbre inédito do rosto de nossos enigmáticos parentes.
Como Funciona a Técnica de Reconstrução Genética?
A técnica usada pelos pesquisadores envolveu mapear alterações químicas no DNA, chamadas de metilações, que controlam quais genes são ativados ou desativados. A partir disso, os cientistas reconstruíram como essas modificações influenciavam o formato do esqueleto.
Para validar o método, eles testaram a mesma abordagem em fósseis de Neandertais e chimpanzés, cujas estruturas ósseas já são bem conhecidas. O resultado foi uma precisão de 85% na previsão das características físicas.

Esses testes deram confiança suficiente para aplicar o método aos Denisovanos.
O Rosto de Uma Denisovana Vem à Luz
O retrato gerado pela equipe científica mostra uma jovem com um rosto alongado, pélvis larga e traços cranianos únicos. Apesar de compartilharem algumas semelhanças com os Neandertais, como o formato facial, os Denisovanos apresentavam diferenças marcantes.
Entre elas estão uma arcada dentária mais projetada e um crânio mais largo, revelando que a evolução seguiu caminhos distintos, mesmo entre grupos tão próximos.

E isso reforça o quão complexa é a história da espécie humana.
Fragmentos Limitados, Informações Valiosas
Antes desse estudo, tudo o que sabíamos sobre os Denisovanos vinha de poucos fragmentos ósseos: um dedo, uma mandíbula e alguns dentes. Nenhum esqueleto completo foi encontrado até hoje.
Ainda assim, sabe-se que esses humanos antigos coexistiram com os Neandertais por milhares de anos e chegaram a se cruzar geneticamente com eles.

E essas misturas genéticas ainda podem ser detectadas em populações atuais da Ásia e Oceania.
Testando a Precisão da Reconstrução
Em 2019, um novo fóssil — uma mandíbula atribuída a um Denisovano — foi descoberto. Ao comparar essa mandíbula real com a reconstrução criada pela equipe de Gokhman, sete das oito características previstas estavam corretas.
Isso reforça a validade do modelo e aumenta a expectativa por novos fósseis que possam confirmar, com mais precisão, como eram esses nossos parentes distantes.

Cada novo achado aproxima ainda mais a ciência da verdadeira face dos Denisovanos.
Denisovanos, Neandertais e Nossos Outros Ancestrais
Embora esse seja o primeiro rosto de um Denisovano já recriado, reconstruções de outros humanos antigos já haviam sido feitas. Em 2018, por exemplo, cientistas modelaram o corpo inteiro de um Neandertal com base em fósseis da Bélgica. Já em 2017, foi reconstruído o rosto de um homem que viveu há 9.500 anos, encontrado em Jericó.
Essas recriações ajudam a dar vida à pré-história e aproximam o público da ciência que estuda nossas origens.
E com novas descobertas, a imagem dos Denisovanos deve se tornar cada vez mais nítida.
Deixe um comentário